quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Dias e Dias

Há dias em que o tempo fica mudo, em que as pessoas se mantém em silêncio por mais tempo, em que é possível escutar as folhas das árvores se soltando pelo meio do caminho. Há dias em a paciência se exerce por conta própria, em que nada é motivo e que os motivos não são nada. Há dias em que eu me tiro pra dançar, em que eu me atiro da corda bamba, levo um tiro de intolerância no peito, e não caio. Há dias em que me falta tempero, me falta dinheiro, me falta suspirro, me falta loucura para te esperar. Porém, não há um só dia que me falta ar. Mesmo com tosse, mesmo na chuva, mesmo com frio... eu respiro. Respiro o mundo, os momentos, os sentimentos que me cercam - mesmo que em pensamento. Há dias que se vão enquanto eu ainda estou dormindo. Há dias que vem e me fazem uma supresa fora de datas comemorativas. Há dias e dias. Dias e noites. Noites que colocamos a cabeça no travesseiro e esquecemos de tudo. Noites que não nos deixam esquecer das tarefas do dia seguinte. Há tanto lá fora. Muito mais aqui dentro. Mas o que há com você agora?
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"Quem foi que inventou que era assim? Sorrisos plásticos fazendo o seu papel enfeitando um rosto de pedra..." (I wanna be - Pitty)

BEIJOS MÁGICOS!

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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A DEMORA.
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Semana passada meu irmão foi parar no hospital por nada grave. Apenas teve que ficar internado para tomar antibióticos na veia e combater uma infecção na perna de maneira mais eficaz. Já recebeu alta e já foi para a escola... Porém de sexta para sábado fiz companhia a ele no hospital. Tinha outra pessoa no mesmo quarto, o Sr. João. Por que, ás vezes, precisamos parar num lugar daqueles (embora seja tudo limpinho e nos tratem super bem, a palavra 'hospital' assusta!) pra dar mais valor á vida? O Sr. João tem câncer, tem as mãos e os pés inchados e quebrou um braço. Anda lentamente e possui uma dificuldade extrema para deitar e levantar da cama. Algumas vezes ofereci ajuda, algumas ele aceitou, outras não. Insisti quando achei necessário, outras vezes deixei que ele se conduzisse como achara melhor. Pois se sentir doente é uma coisa e se sentir inútil é outra coisa, bem diferente por sinal.
No final da tarde estávamos assistindo a um telejornal que mostrava imagens de um acidente, pessoas sendo resgatadas e socorridas. Sr. João então disse: "Olha, é a minha equipe!". Meu irmão logo me explicou que ele havia trabalhado no SAMU. Achei bonito o orgulho que ele demostrou em apenas uma frase. Ele ainda era, de alguma forma, daquela equipe. Ele ainda tinha um coração que mesmo "assim-assim" pensava nas outras pessoas. Por uma frase eu soube que ele gostava do que fazia, que trabalhava por amor. Sorte dele. (Também quero um dia sentir o mesmo orgulho da minha profissão ou de qualquer outra coisa que me dediquei no passado, e acho que estou no caminho certo). Mas agora ele estava alí recebendo os cuidados que prestou a vida inteira, sabendo que o tempo passa depressa e que nem sempre é feita a nossa vontade. O caso do Sr. João não depende mais das mãos da medicina pela idade dele e pelo câncer. Ainda sim, ele gosta de olhar a rua e de se aquecer com o sol.
Uma pessoa da qual convivi por apenas algumas horas me deu um "chacoalhão" sem me dirigir palavras imperativas, conselhos, sugestões, sem saber nada da minha vida. Eu que as vezes demoro pra levantar da cama, demoro pra ficar de bom humor pela manhã, demoro no banho (sei que isso é feio e errado!), demoro pra tomar uma atitude revolucionária, demoro pra abrir a janela... Percebi o quando a gente demora pra dar valor á saúde, pra agarrar as oportunidades que surgem, pra sentir orgulho de quem somos e pra viver a vida que a gente tem!
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BeijOs Mágicos e rápidos.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A partir de hoje vou republicar alguns textos antigos do próprio blog, começando pelo texto aí embaixo "Minhas doses de princesa louca". (Senti saudade dos sentidos antigos - embora não impeça de ainda serem os mesmos - das minhas palavras).

Minhas doses de princesa louca

(14/05/08)
Certa noite me dei ao luxo de sonhar... Deitada na cama, acordada e com os olhos no escuro da mente. Numa breve viagem ao redor dos meus castelos, matei dragões, manejei estrelas e fugi da torre por rebeldia justificada. Pois descobri que a vida de princesa é luxo demais pra mim (preciso mesmo é de emoção, de arrepio). Porque conto de fadas chega na última página e ninguém explica como é o tal do felizes para sempre. Sempre? Uma ilusão passageira que um dia também acaba. Tudo chega ao fim, de repente, num piscar de olhos, num estralar de dedos. Chega ao fim as suas mentiras e até as minhas verdades que não existem mais. O meu veneno e o seu encanto também chegam ao fim (vise-versa). De qualquer forma é preciso de outra dose, seja lá do que for, para que eu continue aqui. Convivendo com sua imagem, defeito e semelhança. Talvez, depois de muitas e outras doses, eu me embreague de você e te suporte de um jeito simples, sem perceber. Mas se você não souber preparar uma bebida doce que me faça feliz e louca por todas as vezes (ou quase todas) que eu provar. Desculpa meu bem, mas eu procuro outro bar!

Ps: Efeitos de uma tarde inspirada... pensamentos loucos... e sede de novidades.


Beijos mágicos e luxuosos

Tati

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Eu sei, mas não devia
por
Marina Colasanti



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)
O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.
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- Comecei o dia "feeling good" e terminei com um aperto no peito ao perceber que eu me acostumei com você, mesmo você querendo ser tão pouco na minha vida. Vou dormi sem sorrisos, sem música e com o desejo de não mais querer o que nunca foi meu.
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BeijOs Mágicos!
O meu "feeling good"
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Pássaros caminham pelo céu
Meu bem, não tenha medo porque hoje não vai chover
Eu posso sentir o dia na palma das minhas mãos
Eu posso sentir você passar por aqui
A liberdade me trouxe de volta
E agora eu posso
Eu posso me sentir tão bem
Tão bem!
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De repente, no meio da manhã, eu fiz as pazes comigo. Escutei Starlight e Feeling good na versão do Muse. Acordei. O sol até atravessou a cortina do escritório. A luz apareceu. Conversas apareceram... As coisas simplesmente surgem quando abrimos a janela. Confesso que utimamente estou de poucas palavras, mas nem por isso quero pouco, quero menos, quero metades ...Porque eu posso me sentir tão bem!
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BeijOs
Mágicos!